24/07/2022

O QUE ESPERAR DE NOSSOS ALUNOS?


Quando se fala de educação, principalmente no que tange à relação professor-alunos, deve-se ter em mente que uma opinião ou experiência particular nunca dará conta de contemplar a totalidade de possibilidades que tal relação pode suscitar na prática. O processo de ensino-aprendizagem coloca em cena diferentes subjetividades, trajetórias, expectativas.

 

Por vezes, as coisas não se passam como o professor ou os alunos esperavam, seja no que diz respeito a frustrações ou a boas surpresas. Ter consciência disso é fundamental, pois, embora planejemos, nos preparemos, idealizemos, nunca podemos prever ou determinar todas as relações que podem surgir ao longo do processo.

 

Ao tomar como tema as expectativas dos professores em relação aos alunos, tenho consciência de que trato de um tema múltiplo e movediço, mas não poderia deixar de dar minha opinião a seu respeito, nem de compartilhar algumas das conclusões a que cheguei a partir da minha própria experiência em sala de aula.

 

Primeiramente, acho indispensável que sempre tenhamos consciência de algo fundamental para que não nos frustremos ao longo do processo: os nossos alunos não serão (nem têm que ser) alunos como nós seríamos, hoje, se estivéssemos no lugar deles.  Tal afirmação pode assustar num primeiro momento, principalmente porque não é incomum que projetemos a nossa própria imagem e aquilo que deu certo para nós como algo adequado ao público com o qual vamos trabalhar.

 

Porém, de um modo geral as coisas não são assim. O fato é que se eu espero que o meu aluno seja igual ao que eu seria hoje, caso estivesse em seu lugar, cometo um erro grave simplesmente porque estou pulando etapas. Estou desconsiderando todo o processo de amadurecimento pelo qual passei, e espero que o aluno (que é uma criança ou um adolescente) aja como um adulto.

 

Não quero, com tal posicionamento, criticar quem tem tal esperança. Na verdade, o que tais pessoas têm em mente é o modelo de estudante que está mais próximo de si, estabelecido não apenas por suas próprias práticas, mas também na observação de seus colegas (universitários ou também já professores). Isso em si não é uma prática negativa, mas apenas um equívoco. O fato é que nem mesmo nós, quando estávamos cursando a Educação Básica, éramos iguais ao que somos hoje. Mudam as pessoas e, principalmente, mudam as gerações.

 

Neste ponto, reforço aquilo que já afirmei acima: nossos alunos são crianças ou adolescentes. Isso é o aspecto principal que irá estabelecer como eles serão e como agirão, sob qualquer ponto de vista. Idades, interesses, metabolismos, modos de pensar, expectativas, enfim, as características essenciais de sua condição, são bem diferentes das de um adulto. Logo, eles serão, sim, bem diferentes de nós, pensarão diferente, agirão diferente e isso ficará evidente o tempo inteiro, porque eles costumam ser sinceros quanto a seus sentimentos. Saber disso nos coloca na situação de quem não vai esperar dos alunos algo além do que eles na verdade são: crianças ou adolescentes.

 

Sim, em algum momento, em menor ou maior grau, nossos alunos nos darão trabalho. Mas, reflitamos sobre algo: eu tenho dois filhos (no momento em que escrevo este texto, julho de 2018, minha filha tem oito anos e meu filho cinco). Embora eu os ame demais, não posso deixar de reconhecer que os dois dão sim muito trabalho, sendo necessário agir com paciência, compreensão, ponderação e firmeza em alguns casos. E eles são apenas dois! Agora, imaginem uma turma com 20, 30, 40 alunos!!! Imaginem 40 filhos nossos, da mesma idade, em nossa frente, requerendo cuidados… Dar trabalho, serem agitados, impacientes, ativos, brincalhões e muitas vezes indisciplinados, tudo isso são aspectos inerentes às condições e à idade dos nossos alunos. E são coisas com as quais devemos estar preparados a partir do momento em que decidimos lidar com crianças ou adolescentes, seja tendo filhos, seja escolhendo o magistério como profissão.

 

Diante do que venho apresentando, é evidente que cabe o cuidado para não criarmos expectativas demasiadamente fantasiosas sobre o magistério e o trabalho em sala de aula. É preciso ter em mente que dificilmente encontraremos na escola alunos como os personagens de seriados e novelas, que, colocados em salas/cenários bem estruturados e sem superlotação, levantam o dedo para falar. É necessário que saibamos que encontraremos seres humanos reais, que podem estar estressados, ansiosos, deprimidos, com fome (triste realidade de muitas escolas públicas do Brasil), com medo de voltar para casa e enfrentar a violência doméstica…

 

Uma sala de aula é um microcosmo que simula bem a diversidade da sociedade e, assim como na rua, lá encontraremos pessoas com as mais variadas características. Estar preparado para essa diversidade (e principalmente para entrar em contato com modos de pensar e agir bem diferentes dos seus) é essencial para o sucesso do professor em sua relação com os alunos.

 

Estejamos certos: não é possível “moldar” nossos alunos às nossas ideologias nem às nossas expectativas. Primeiro porque o professor nem tem essa atribuição nem esse poder, e segundo porque, ainda que tivesse, naturalmente os alunos teriam inúmeros outros professores querendo “moldá-los” de outras formas. Seria um caos. Então, esqueçamos isso.

 

Acredito que a maior expectativa que o professor precisa ter em relação aos alunos deva dizer respeito às trocas de experiências que dali podem surgir. Não somos detentores de todos os saberes e, sim, nossos alunos podem nos ensinar tanto quanto podemos ensiná-los. É fundamental que olhemos para cada um e pensemos: por mais que esta pessoa seja diferente de mim, o que eu posso colher de bom da minha relação com ela. Isso lhe ajuda a não esperar que os alunos sejam o espelho do que você projeta e a entender melhor cada uma de suas atitudes.

 

Mas, cuidado! Entender não é ceder a tudo e ser permissivo. O aluno deve saber que há regras e que seu direito de expressão e sua liberdade de escolha têm limites na medida em que entram em relação com os direitos e liberdades dos demais membros da turma e com a rotina da escola. Entretanto, o que tenho percebido em minha prática é que os alunos, ao se darem conta de que você se preocupa com eles, que tenta entendê-los, passam a preocupar-se mais com o relacionamento com o professor e em entendê-lo também. Isso acaba favorecendo demais o trabalho em sala de aula.

 

Por fim, nunca pensemos que todos os alunos (mesmo os mais comprometidos), estarão o tempo inteiro, todos os dias, interessados em todos os conteúdos e em todas as atividades. Isso não acontecia conosco em nossos tempos de educação básica, não acontecia na universidade e não acontece na vida! Por que seria diferente com eles? Às vezes, verdadeiramente alguma coisa planejada não vai render e ocorrerá de muitos na turma desviarem sua atenção para outras coisas. Cabe, é sempre bom lembrar, paciência e flexibilidade. Às vezes, dar alguns minutos para uma conversa, adiar uma atividade ou mesmo desenvolver uma dinâmica podem ser muito mais proveitosos do que cumprir um plano de aula.

 

Estejamos sempre dispostos e abertos a uma boa relação, porque nossos alunos convivem diariamente conosco e a harmonia é essencial. Ter as expectativas corretas e condizentes com o público com o qual lidamos irá influenciar num planejamento e numa prática mais abertos, mais flexíveis e menos frustrantes para ambas as partes.

 

_______________

Professor Weslley Barbosa