Quando se fala de educação, principalmente no que
tange à relação professor-alunos, deve-se ter em mente que uma opinião ou
experiência particular nunca dará conta de contemplar a totalidade de
possibilidades que tal relação pode suscitar na prática. O processo de
ensino-aprendizagem coloca em cena diferentes subjetividades, trajetórias,
expectativas.
Por vezes, as coisas não se passam como o professor
ou os alunos esperavam, seja no que diz respeito a frustrações ou a boas
surpresas. Ter consciência disso é fundamental, pois, embora planejemos, nos
preparemos, idealizemos, nunca podemos prever ou determinar todas as relações
que podem surgir ao longo do processo.
Ao tomar como tema as expectativas dos professores
em relação aos alunos, tenho consciência de que trato de um tema múltiplo e
movediço, mas não poderia deixar de dar minha opinião a seu respeito, nem de
compartilhar algumas das conclusões a que cheguei a partir da minha própria
experiência em sala de aula.
Primeiramente, acho indispensável que sempre
tenhamos consciência de algo fundamental para que não nos frustremos ao longo
do processo: os nossos alunos não serão
(nem têm que ser) alunos como nós seríamos, hoje, se estivéssemos no lugar
deles. Tal afirmação pode assustar
num primeiro momento, principalmente porque não é incomum que projetemos a
nossa própria imagem e aquilo que deu certo para nós como algo adequado ao
público com o qual vamos trabalhar.
Porém, de um modo geral as coisas não são assim. O
fato é que se eu espero que o meu aluno seja igual ao que eu seria hoje, caso
estivesse em seu lugar, cometo um erro grave simplesmente porque estou pulando
etapas. Estou desconsiderando todo o processo de amadurecimento pelo qual
passei, e espero que o aluno (que é uma criança ou um adolescente) aja como um
adulto.
Não quero, com tal posicionamento, criticar quem
tem tal esperança. Na verdade, o que tais pessoas têm em mente é o modelo de
estudante que está mais próximo de si, estabelecido não apenas por suas próprias
práticas, mas também na observação de seus colegas (universitários ou também já
professores). Isso em si não é uma prática negativa, mas apenas um equívoco. O
fato é que nem mesmo nós, quando estávamos cursando a Educação Básica, éramos iguais
ao que somos hoje. Mudam as pessoas e, principalmente, mudam as gerações.
Neste ponto, reforço aquilo que já afirmei acima:
nossos alunos são crianças ou adolescentes. Isso é o aspecto principal que irá
estabelecer como eles serão e como agirão, sob qualquer ponto de vista. Idades, interesses, metabolismos, modos de
pensar, expectativas, enfim, as características essenciais de sua condição, são
bem diferentes das de um adulto. Logo, eles serão, sim, bem diferentes de
nós, pensarão diferente, agirão diferente e isso ficará evidente o tempo
inteiro, porque eles costumam ser sinceros quanto a seus sentimentos. Saber disso
nos coloca na situação de quem não vai esperar dos alunos algo além do que eles
na verdade são: crianças ou adolescentes.
Sim, em algum
momento, em menor ou maior grau, nossos alunos nos darão trabalho. Mas,
reflitamos sobre algo: eu tenho dois filhos (no momento em que escrevo este
texto, julho de 2018, minha filha tem oito anos e meu filho cinco). Embora eu
os ame demais, não posso deixar de reconhecer que os dois dão sim muito
trabalho, sendo necessário agir com paciência, compreensão, ponderação e
firmeza em alguns casos. E eles são apenas dois! Agora, imaginem uma turma com
20, 30, 40 alunos!!! Imaginem 40 filhos nossos, da mesma idade, em nossa
frente, requerendo cuidados… Dar trabalho, serem agitados, impacientes, ativos,
brincalhões e muitas vezes indisciplinados, tudo isso são aspectos inerentes às
condições e à idade dos nossos alunos. E são coisas com as quais devemos estar
preparados a partir do momento em que decidimos lidar com crianças ou
adolescentes, seja tendo filhos, seja escolhendo o magistério como profissão.
Diante do que venho apresentando, é evidente que cabe o cuidado para não criarmos
expectativas demasiadamente fantasiosas sobre o magistério e o trabalho em sala
de aula. É preciso ter em mente que dificilmente encontraremos na escola
alunos como os personagens de seriados e novelas, que, colocados em
salas/cenários bem estruturados e sem superlotação, levantam o dedo para falar.
É necessário que saibamos que encontraremos seres humanos reais, que podem
estar estressados, ansiosos, deprimidos, com fome (triste realidade de muitas
escolas públicas do Brasil), com medo de voltar para casa e enfrentar a
violência doméstica…
Uma sala de aula é um microcosmo que simula bem a
diversidade da sociedade e, assim como na rua, lá encontraremos pessoas com as
mais variadas características. Estar
preparado para essa diversidade (e principalmente para entrar em contato com
modos de pensar e agir bem diferentes dos seus) é essencial para o sucesso do
professor em sua relação com os alunos.
Estejamos certos: não é possível “moldar” nossos
alunos às nossas ideologias nem às nossas expectativas. Primeiro porque o
professor nem tem essa atribuição nem esse poder, e segundo porque, ainda que
tivesse, naturalmente os alunos teriam inúmeros outros professores querendo
“moldá-los” de outras formas. Seria um caos. Então, esqueçamos isso.
Acredito que a
maior expectativa que o professor precisa ter em relação aos alunos deva dizer
respeito às trocas de experiências que dali podem surgir. Não somos
detentores de todos os saberes e, sim, nossos alunos podem nos ensinar tanto
quanto podemos ensiná-los. É fundamental que olhemos para cada um e pensemos:
por mais que esta pessoa seja diferente de mim, o que eu posso colher de bom da
minha relação com ela. Isso lhe ajuda a não esperar que os alunos sejam o
espelho do que você projeta e a entender melhor cada uma de suas atitudes.
Mas, cuidado!
Entender não é ceder a tudo e ser permissivo. O aluno deve saber que há regras e que
seu direito de expressão e sua liberdade de escolha têm limites na medida em
que entram em relação com os direitos e liberdades dos demais membros da turma
e com a rotina da escola. Entretanto, o que tenho percebido em minha prática é
que os alunos, ao se darem conta de que você se preocupa com eles, que tenta
entendê-los, passam a preocupar-se mais com o relacionamento com o professor e
em entendê-lo também. Isso acaba favorecendo demais o trabalho em sala de aula.
Por fim, nunca
pensemos que todos os alunos (mesmo os mais comprometidos), estarão o tempo
inteiro, todos os dias, interessados em todos os conteúdos e em todas as
atividades. Isso não acontecia conosco em nossos tempos de educação básica,
não acontecia na universidade e não acontece na vida! Por que seria diferente
com eles? Às vezes, verdadeiramente alguma coisa planejada não vai render e
ocorrerá de muitos na turma desviarem sua atenção para outras coisas. Cabe, é
sempre bom lembrar, paciência e flexibilidade. Às vezes, dar alguns minutos
para uma conversa, adiar uma atividade ou mesmo desenvolver uma dinâmica podem
ser muito mais proveitosos do que cumprir um plano de aula.
Estejamos sempre dispostos e abertos a uma boa
relação, porque nossos alunos convivem diariamente conosco e a harmonia é
essencial. Ter as expectativas corretas
e condizentes com o público com o qual lidamos irá influenciar num planejamento
e numa prática mais abertos, mais flexíveis e menos frustrantes para ambas as
partes.
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Professor
Weslley Barbosa